Thursday, January 17, 2013

Engenharia


Aquele pai já estava ficando louco com a falta de iniciativa do seu filho. Queria que ele estudasse, mas o rapaz não era muito chegado aos livros. Faculdade pública, nem pensar, nenhuma chance. Teria que entrar numa particular e a grana era curta. Já estava achando que o filho teria o mesmo destino que o dele, chofer de lotação. Até que um dia o jovem entra eufórico em casa:
- Pai, vô pra facú!
- Como é que é?
- Vô fazê faculdade, pai. Não zoa, né.
- Cê jogou na loteria ou no bicho? Por que eu não tenho grana...
- Qualé, vô estuda com tudo pago. Bolsa completa.
- Péra aí, deixa eu sentar. Que história é essa?
- Vô estudá umas parada legal. O currículo é, sabe, variado, tem muita coisa mesmo.
- Tipo o quê?
- Logística, por exemplo...
- Ah, é coisa de loja, super-mercado?
- Aí, pai, tu ta avacalhando. Caraca, tô falando sério. Logística é transporte. Cê nem parece motorista de lotação...
- Ah isso é bom. Acho. Coisa pra transportar sempre vai ter, né. Que mais. Conta. Quero saber tudo.
- Noções de química, com laboratório e tudo. Umas parada de farmácia, tá sacando? Telecomunicações, sabe, central telefônica, grampo. Direito aplicado. Tem que fazer muita educação física, correr, saltar, pular. Técnicas de negociação e pesquisa de mercado, administração de recursos humano. Nossa, muito legal, muita coisa pai. Vai sê punk! Vô ter que me virar para aprender tudo isso. Tudo pago pela própria facu. E já saio com emprego.
- Qual vai ser o seu diploma? Cê vai ser o que?
- Engenheiro.
- Não, cê tá brincando. Meu filho engenheiro!!! Isso é um sonho. Engenheiro do que, mecânico, civil...
- Não, eu vô fazê Engenharia de Tráfico.
- Engenharia de Tráfego? Ah, já sei, cê vai trabalhar para o Detran. Quem sabe cê me livra daquelas multas que eu recebo semanalmente...
- Não, é Engenharia de Tráfico, mesmo.
- Péra aí. Não é o Detran que tá pagando sua bolsa?
- Não é uma ONG. O Instituto Sociedade Pulverizada.
- Ah, uma ONG. Aí, sim. Já estou entendendo, isso é coisa boa, decente. As ONG são demais, gente culta.
- Pois é, eles precisam de gente pra comandar as parada, sacou? Gente de nível. Me pagam o curso inteiro, e já saio de lá com colocação, uma boca. Me prometeram até um carro e um celular. Aí, ó, teu filho engenheiro, cheio das mina!!! Vai chovê muié.
- Viva, é isso aí, meu filho engenheiro. Olha lá, hein, vai ter que terminar o curso, não vai fazer que nem os seus cursos do Instituto Universal Brasileiro, cê começou uns dez e nunca terminou. Desenho mecânico, técnico eletrônico, chaveiro, até cabeleireiro...Só me deu despesa.
- Que é isso, véio! A parada é séria. Os cara me apagam se eu sair no meio. Olha só, o nome da Facu é Faculdades Reunida Medellín e o lema deles é “Entrô, não sai”.
- Meu filho, estou muito orgulhoso. Onde fica a universidade?
- Lá no Morro do Pinga-Pinga..
- No morro? Justo no Pinga-Pinga. Não é perigoso, não?
- É, sacumé, coisa de ONG. Os cara querem a gente lá com o povão.
- Essas ONG são todas loucas, né? Coisa de comunista, do Xê Gevara..
- É, véio, coisa de loco. Ó, já vou me preparar por que tem estágio e tudo. Tem que ralar, viu? Mas os cara dão até rango, tênis do bom, óculos escuro, máquina...
- Ok, filhão parabéns. Pó, até uniforme os caras dão.
- Tchau, véio. Se uns caras de gravata e jaqueta de couro me procurarem diz que eu to estudando logística.

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