Sunday, January 13, 2013

Carrinho de pipoca



Gosto tanto de pipoca que uma parte fundamental das minhas idas ao cinema, apesar do meu entusiasmo pela sétima arte, é a pipoca. Perdoem-me os puristas. Isto nos Estados Unidos significa literalmente um balde de pipoca. Alguns cinemas têm maneirado, fazendo um downgrade do indecente balde para um saco de papel, que em termos volumétricos não fica devendo muito à embalagem mais firme.

Realmente o balde de pipoca é o cúmulo do consumismo americano. Às vezes saio do cinema sem condições de ter outra refeição durante alguns dias, sem contar que o sal é suficiente para preservar um bacalhau ou pirarucu de bom tamanho.

Quando iniciei a quinta série no Colégio Macedo Soares, em 1971, havia na frente da escola um sorridente homem com seu humilde carrinho de pipoca, servindo mais civilizados saquinhos para a gurizada, que, alegre e barulhenta, fazia fila esperando a guloseima. A pipoca era feita fresquinha, na hora, e eram dias felizes e lucrativos para aquele moço.

Eis que um belo dia surgiu um carrinho de sorveteda Kibon. Pouco a pouco o sorriso foi se esvaindo do semblante daquele homem. Nos anos 70, muitas mães insistiam em não dar coisas geladas para seus filhos o tempo todo, assim que o sorvete, mesmo o picolé, tinha lá seu gosto de coisa proibida. Freud explica. O Ibope do pipoqueiro foi diminuindo à medida que aumentava a fila na frente do carrinho da Kibon. Lembro que um belo dia a criançada comemorava com desespero a chegada um tanto atrasada dos picolés, e o pipoqueiro falou, um pouco sem jeito, "mas tem a pipoca também, gente".

Fui sensível para notar isso, mas continuei mandando ver nos picolés de chocolate e limão, de longe meus prediletos. Bolso de ginasiano não dava para financiar pipoca e picolé, é um ou outro. A memória me trai e não sei que destino teve o pipoqueiro, deve ter abandonado aquela pequena guerra varejista derrotado.

Ontem estive próximo do colégio, e decidi arriscar uma visita superficial. A vizinhança mudou bastante, com alguns prédios bonitos que não combinam muito com as baixas edificações mais antigas. Lá ainda estava o belo e reformado Theatro São Pedro, um dos mais velhos de Sampa. O Pronto Socorro da Barra Funda há muito demolido, basicamente a única coisa que me parece plenamente familiar é o Macedão. O prédio poderia estar melhor, mas também, poderia estar caindo aos pedaços como o castelinho da Rua Apa. Pelo menos ainda existe.

Qual não foi a minha surpresa ao ver, na frente da escola, um solitário carrinho de pipoca, com uma sorridente pipoqueira servindo um bom número de clientes. Podem dizer que é sentimentalismo barato de um saudosista ou sonhador, mas juro, ou gostaria de jurar, que era o mesmo carrinho daquele choroso pipoqueiro de 1971! Quem sabe, a neta herdou o carrinho, e triunfou sobre o sorveteiro. A justiça tarda mas um dia prevalece.

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